Estrelas

 Minha familiaridade com as estrelas

Faz-me sentir em casa quando observo o céu 

Descobrir um ponto cintilante

Ainda que tão distante

É como encontrar algo preciosamente puro

Mesmo que intocável 

Espaço tempo

 Quero te falar de todas as estrelas que visitei

 Quando avistei o teu olhar

Naquela cafeteira que mais parecia ser o céu 

E foram constelações, equações, cânticos celtas 

Lispector, Saramago e Nietzsche 

Um instante perfeito entre o espaço/tempo de nós dois 

E eu que encontro palavras para dizer o que sinto e penso 

Emudeci tentando captar a doçura inexprimível do momento

Do contentamento tangível do nosso encontro

Sementes

Deixamos espaços, outras prioridades

E que um tanto de descaso

Definissem nossos portos

Distanciando nossos corpos 

Talvez não fosse o momento

Mas o que não é a vida senão 

 O fruto das nossas escolhas

Somado a alguma sorte do acaso?

Não me agrada revisitar o passado

Mas apenas em alguns momentos haverá a dúvida 

Implacável e que jamais terá resposta

Sobre o que seria se tivesse florescido?

Era uma semente que trazia toda a possibilidade

De germinar ou de ser infértil

Ah, se soubéssemos cultivar e cativar 

Se fosse o caso de se regar ou de cuidar 

Nunca saberemos...

Algum cansaço

Silêncios nos habitam

Vazios inexplicáveis

Indefinidos

Em uma escuridão que alimenta o desânimo 

Misturado com apatia

E que pode perdurar

Sem qualquer perspectiva 

Em um cansaço inexprimível 

Já a vida, antes protagonista

Se torna espectadora dessa rotina 

Talvez seja

 

Talvez seja

O perfume da lavanda na varanda

Adentrando pela casa, pelos cômodos

Entre o leve vento e os raios tímidos de sol

Iluminando os caminhos suavemente

Enquanto os pássaros brincam no ar

Num céu não tão distante daqui

Talvez seja

A canção que ouço ao fundo

Ou que imagino, já não sei...

Mas sinto notas e acordes

Sinto, (não digo ouço), porque me tocam de alguma forma

Extasiando um momento particularmente palpável e efêmero

Talvez seja

Parte de tudo isso

Ou apenas o todo de uma parte

De uma poesia líquida que dá sentido ao instante

 

Solitude

Pouco se sente e raramente se diz

A máscara que sequer impede de falar tampouco é capaz de frear o sentir

Mas ainda assim e de uns anos pra cá o amor nos corações humanos vem esfriando 

E eu que não sobrevivo a superfícies hostis

Fechei-me no meu casulo 

Distante o suficiente para não corromper minha calorosa intensidade

(E a isso dou o nome de autoproteção)

Com o passar do tempo encontrei uma enorme satisfação nessa solidão

Que eu carinhosamente não comparo a uma metamorfose

Pois para sair do casulo eu não aguardo minha transformação 

Preciso apenas de uma veemente motivação

 

 

Solitude: substantivo feminino[Poética] Estado da pessoa que está só, sozinha.Condição de quem se isola propositalmente ou está num período de reflexão e de interiorização.

https://www.dicio.com.br/solitude/

 

Implodindo

Existe um universo paralelo dentro de mim.

Já vivi centenas de anos nas estórias que imaginei.

A vida tal como é raramente foi/é o bastante para mim. 

Fantasiei colorindo a realidade, sorrindo para cenários imaginários e sentindo com tamanha intensidade situações que jamais vivenciei.

É como se houvesse uma explosão de vida prestes a acontecer, mas não ocorre, então implodo.

Efervescência

As luzes vão entrando pela fresta da janela

É no escuro o palco desta festa

E eu entregue em meus pensamentos 

Tal qual astro que nasce em explosão

Meu delírio é desvendar espaços

Refazer inventos

Entre cores que me incendeiam

Sou matéria em ebulição

E se sou chama, é que me ateias 

E se sou verso, é que me inspiras 

E se sou só? Infinita vastidão