segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Sopro, brisa, ventania...



Quando penso em não dizer-lhe
Até hesito, mas digo
É que não resisto
A esse sopro de amor que me habita
(ora brisa, ora ventania)
Que vai contornando o infinito
Até beijar o seu rosto
Porque não me canso
De tanta ternura

Tudo isso que lhe digo
Não invento
Vem dos seus olhos
Razão do meu encanto
Que procuro mensurar
Mas não consigo
É tanto, tanto...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Primavera


Talvez minha devoção tenha durado
Além do imaginado
Mas acredito no prolongamento natural
Desta primavera em meu peito
E agora esta dor de extensa ternura
Que vou conjugar (com o tempo) no passado
Contudo, o que quero dizer-te neste instante
É que não morrerei por um dia ter te amado

Quem sabe brevemente
Outra canção
Far-se-á em meu coração
(candidamente nova)
E a minha inspiração
Encontrará outro
Que receberá amorosamente meus versos
E a intensidade pura do meu sentir
Porque não minto em confessar que apoio
Minha salvação nessa entrega sincera

Que venha o inverno!
Recebo as estações de peito aberto
Mas espero, sem pressa
A promessa
Da próxima primavera

sábado, 1 de outubro de 2011

Das quietudes

Minha candidez foi por ti pisada. Não me amaste, disto só eu sei. Estive só. Só de ti.  (Clarice Lispector)


Olhamo-nos, mas ele insistia em permanecer mudo. O telefone não tocou nas incessantes horas em que permanecemos em contemplação amorosa. Eu queria, embora não admitisse expressamente, como eu queria sentir a vibração do seu estridente som, rompendo nosso silêncio mútuo, trazendo para perto de um dos meus sentidos quem se fez longe, e eu sei que ele, o telefone, queria o que eu queria, no seu sentido de utilidade de coisa. Contudo, ficamos ali; eu, com a sensação dolorosa do descaso; ele, na sua mudez inquietante; mas ambos absurda e silenciosamente frustrados.