Escrevo-te, como se fosse o instante último.
Com uma urgência quase trágica.
Se tudo pudesse ser sintetizado em uma única palavra, esta seria
"querer", que arde como fogo intensamente crepitante.
Fui armazenando o sentir, assim como quem não diz por medo de
constatar que no final sempre seremos sós.
Agora, o vento me traz notas de saudades e o
tempo me diz que é pouco o tempo...
Vou te dizer um segredo: eu quis que a primeira
claridade da manhã viesse através dos teus olhos.
E quis além, que a tua presença fosse a própria alvorada,
raio solar invadindo a imensidão de um espaço repleto apenas de ausências
(ausências que são tão tuas).
Tive que me habituar nas incertezas do caminho com tuas
despedidas, com o adeus que se perdia no silêncio dos meus lábios, o coração
fremente, e a infinita possibilidade de ser a derradeira despedida.
Mas o que dizer se mesmo que vais, ainda assim ficas? Ao menos
aqui dentro de mim tua presença é constante, meu segredo que protejo, que
projeto em noites estreladas e tardes de nuvens rosadas e brisa morna.
É que sou céu, e trago no ventre uma revoada de pássaros,
que traduzem minha liberdade de voar além dos meus próprios limites.