domingo, 7 de julho de 2019

Carta de um instante



Escrevo-te, como se fosse o instante último.

Com uma urgência quase trágica. 

Se tudo pudesse ser sintetizado em uma única palavra, esta seria "querer", que arde como fogo intensamente crepitante.

Fui armazenando o sentir, assim como quem não diz por medo de constatar que no final sempre seremos sós.

Agora, o vento me traz notas de saudades e o tempo me diz que é pouco o tempo...

Vou te dizer um segredo: eu quis que a primeira claridade da manhã viesse através dos teus olhos.

E quis além, que a tua presença fosse a própria alvorada, raio solar invadindo a imensidão de um espaço repleto apenas de ausências (ausências que são tão tuas).

Tive que me habituar nas incertezas do caminho com tuas despedidas, com o adeus que se perdia no silêncio dos meus lábios, o coração fremente, e a infinita possibilidade de ser a derradeira despedida.

Mas o que dizer se mesmo que vais, ainda assim ficas? Ao menos aqui dentro de mim tua presença é constante, meu segredo que protejo, que projeto em noites estreladas e tardes de nuvens rosadas e brisa morna.

É que sou céu, e trago no ventre uma revoada de pássaros, que traduzem minha liberdade de voar além dos meus próprios limites.