O tempo me pede paciência, como quem desenha uma imagem com a perfeição que só pode ser divina. E eu, desejando entender o que hoje ainda não passa de um esboço irreconhecível tento antecipar seus contornos impossíveis de serem humanamente adivinhados. Há uma esperança docemente tola em acertar a obra final do Artista, logo eu, alma de mente inquieta e coração intenso, tropeço nos meus enganos e choro as desilusões que eu mesma crio. Mas sigo, sentindo que estou a um passo do abraço terno do destino. Imagino repousar o rosto e respirar alívio. Parece-me que interpretei errado esse suposto descompasso entre o que quero e o que mereço. Pois travei batalhas que ainda que fosse vencedora eu teria perdido, porque me esqueci de mim pelo caminho. Mas o tempo, tem me ensinado a apreciar seu processo de criação. Deixa eu desacelerar, confiar e contemplar esse desenho em formação.
Bolha Estelar
Ostentando estrelas de uma loucura particularmente poética...
domingo, 2 de novembro de 2025
domingo, 17 de agosto de 2025
Era domingo
Era domingo, despertei com o corpo pesado sobre a cama
Minha pele estava aquecida, meus cabelos contornavam o travesseiro
Frestas de luz vinham da janela
Que horas eram?
Não sei, por um instante era o mundo lá fora e eu aqui dentro
Deixa-me fingir que o tempo está suspenso
E que a realidade pode esperar
Não quero acordar meus medos, meus sonhos, minhas dores
No momento tudo que eu preciso está aqui
Quero apenas existir sem nenhuma expectativa, sem cobranças e obrigações
Sentir a pele que visto, o corpo que me sustenta e que habito
Perceber o cobertor macio deslizando, a pele sendo tocada pela atmosfera sutil do quarto fechado
Sem ventos e assombros
Apenas eu sobre minha cama
quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
Alguma luz
Somos poeira cósmica
Partículas de alguma constelação
E ao acessarmos esses registros
Irradiamos nossa luz
Como fragmentos de estrelas
A luz que me habita
Que se expande
Brilha
A canção que voa pelo vento suavemente
Sou nota
Melodia
Enquanto sonho
Infinita
Onde pensamentos não tem limites espaciais ou dimensionais
Sou livre
Inteira
Na plenitude do presente
Que me refaço
E me componho
De todas as minhas urgências
Meu corpo, minha morada
Sou terra fértil
Água que flui
Fogo que incendeia
Ar que se espalha em brisa divina
Porque sou terra e ainda céu
Sou sopro de vida
Pó estelar
Para além dessa vida
sábado, 14 de dezembro de 2024
Alma poética
São tempos de noites mal dormidas
Sono escasso, cansaço extremo, exaustão
Qual a relação dos arrepios na minha pele
Com o caos que habita minha mente?
As horas passam e com segundos gritam
Sem nem notar já se passaram 12 meses
Vivendo desordenadamente e por vezes
Absolutamente no automático
Eu só quero que esse ano acabe
Com a ingênua esperança de que talvez ano que vem tudo possa ser diferente
Parece que estou tão perto da felicidade
Ela sempre está um passo a minha frente
Não rimo porque a vida nem sempre é afável ao coração de uma alma poética
quarta-feira, 24 de julho de 2024
Ao poeta que se cala
Quando escrevia
Em profunda comunhão
Com o que sentia
Seu estro incomum
Enaltecia
Era poema
E poesia
Acalentava
A leve brisa
Mas não ousava
E em silêncio
Sonhava
E chorava
A triste sina
Saber-se assim
Saber-se tanto
Saber-se só
E no momento
Fazer-se gelo
Tornando em pó
Seus sentimentos
Por que estático?
Por que o medo?
Pesavam-lhe as palavras que não dizia
Morriam
Ávidas
Em desmedida
Agonia
Não se rendeu
Mesmo diante de todos os sinais
Pediu a Deus
Uma resposta
Ou apenas
Que levasse embora
Toda a dor
Sem mais demora
Gritou
Do calabouço
Aprisionou
O seu desejo
Único jeito
De continuar
Longe dos olhos
Tentaria não lembrar
Mas a vida
Essa corrente
De promessas
Ninguém sabe onde nos leva
E a brisa
Sublime
Vem, embala
Passa
E não espera
quarta-feira, 10 de julho de 2024
Versos de Passagem
"E se conseguísseis maravilhar-vos com os
milagres diários da vossa vida,
a vossa dor não vos pareceria menos intensa do
que a vossa alegria;
E aceitaríeis as estações do vosso coração, tal
como haveis aceite as estações que passam sobre o vossos campos.
E passaríeis com serenidade os invernos das
vossas mágoas!"
Khalil Gibran
A correnteza mudou de
direção
E eu não nado sem me cansar na contramão
Deixarei o fluxo das águas seguir
Evitando o que não evitei
Jogando tinta que cubra
Todas as nuances de cores
Dos quadros que pintei
Calando a canção
Nos lábios desabrochados
Adormecendo
O que foi despertado
Mortificando os medos
Que me afundam em noite escura
Penumbra
Que assola meus desejos
Vou descendo
Arranhando as paredes da memória
Relembrando o que quero esquecer
São reminiscências de ternura
Mas não há espaço para a candura
Não agora...
Deixo o tempo correr
E corroer
É preciso aceitar
O que não fica
É preciso dar adeus
Ao que não aconteceu
É preciso morrer
Para renascer
Brevidade
Eu tive alguns instantes de alguma breve felicidade
Uma leveza acima das dores
Ela voou e se aninhou por entre meus pensamentos
Fugaz, mas que me permitiu compreender a alegria desconfortável ainda que na ausência do que sempre será insubstituível
Somos todos um ciclo, em ciclos vamos moldando nossas vidas
Somos todos breves, como breves são as alegrias
Somos começo e fim