quarta-feira, 24 de julho de 2024

Ao poeta que se cala

 

Quando escrevia
Em profunda comunhão
Com o que sentia
Seu estro incomum
Enaltecia
Era poema
E poesia

Acalentava
A leve brisa
Mas não ousava
E em silêncio
Sonhava
E chorava
A triste sina

Saber-se assim
Saber-se tanto
Saber-se só
E no momento
Fazer-se gelo
Tornando em pó
Seus sentimentos

Por que estático?
Por que o medo?
Pesavam-lhe as palavras que não dizia
Morriam
Ávidas
Em desmedida
Agonia

Não se rendeu
Mesmo diante de todos os sinais
Pediu a Deus
Uma resposta
Ou apenas
Que levasse embora
Toda a dor
Sem mais demora

Gritou
Do calabouço
Aprisionou
O seu desejo
Único jeito
De continuar
Longe dos olhos
Tentaria não lembrar

Mas a vida
Essa corrente
De promessas
Ninguém sabe onde nos leva
E a brisa
Sublime
Vem, embala
Passa
E não espera

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Versos de Passagem

 

"E se conseguísseis maravilhar-vos com os milagres diários da vossa vida,

a vossa dor não vos pareceria menos intensa do que a vossa alegria;

E aceitaríeis as estações do vosso coração, tal como haveis aceite as estações que passam sobre o vossos campos.

E passaríeis com serenidade os invernos das vossas mágoas!"

Khalil Gibran

 

A correnteza mudou de direção
E eu não nado sem me cansar na contramão
Deixarei o fluxo das águas seguir
Evitando o que não evitei
Jogando tinta que cubra
Todas as nuances de cores
Dos quadros que pintei
Calando a canção
Nos lábios desabrochados
Adormecendo
O que foi despertado
Mortificando os medos
Que me afundam em noite escura
Penumbra
Que assola meus desejos
Vou descendo
Arranhando as paredes da memória
Relembrando o que quero esquecer
São reminiscências de ternura
Mas não há espaço para a candura
Não agora...
Deixo o tempo correr
E corroer
É preciso aceitar
O que não fica
É preciso dar adeus
Ao que não aconteceu
É preciso morrer
Para renascer

Brevidade

Eu tive alguns instantes de alguma breve felicidade 

Uma leveza acima das dores

Ela voou e se aninhou por entre meus pensamentos

Fugaz, mas que me permitiu compreender a alegria desconfortável ainda que na ausência do que sempre será insubstituível 

Somos todos um ciclo, em ciclos vamos moldando nossas vidas

Somos todos breves, como breves são as alegrias

Somos começo e fim