sábado, 1 de outubro de 2011

Das quietudes

Minha candidez foi por ti pisada. Não me amaste, disto só eu sei. Estive só. Só de ti.  (Clarice Lispector)


Olhamo-nos, mas ele insistia em permanecer mudo. O telefone não tocou nas incessantes horas em que permanecemos em contemplação amorosa. Eu queria, embora não admitisse expressamente, como eu queria sentir a vibração do seu estridente som, rompendo nosso silêncio mútuo, trazendo para perto de um dos meus sentidos quem se fez longe, e eu sei que ele, o telefone, queria o que eu queria, no seu sentido de utilidade de coisa. Contudo, ficamos ali; eu, com a sensação dolorosa do descaso; ele, na sua mudez inquietante; mas ambos absurda e silenciosamente frustrados.